
Sentada
em minha varanda contemplo a beleza do meu jardim. Como ele é lindo!
Logo na entrada, duas fileiras de
pingos de ouro parecem vigiar para que ninguém pise na grama. Entre
as duas passarelas, na entrada para o carro, uma faixa verde de grama
quebra a frieza do cimento e oito palmeiras muito bonitas, mas que
não alcançaram o seu total crescimento, ladeiam as passarelas. Do
lado direito de quem entra, o muro já esta coberto por heras. No
canto, uma palmeira parece emoldurar a parede. Bolas de pingo de ouro
formam conjuntos que dão uma leveza ao ambiente. Subindo um pouco,
quatro ciprestes altaneiros se sobressaem pela altura e pelo
colorido. A poucos passos da janela do meu quarto há um bouguevile,
carregado de flores lilases, servindo de palco para uma orquestra de
pássaros cantores que, ao alvorecer, me acordam com uma alvorada
festiva.
Voltando meu olhar para a esquerda
de quem entra, vejo um bouguevile de altura media que se sobressai
pelo colorido de suas flores vermelhas. Um pouco acima, quatro pingos
de ouro, em forma de bolas, se harmonizam com o vermelho vibrante do
bouguevile. Pena que a hera que cobre o muro, à esquerda de quem
entra, não se desenvolveu completamente, deixando parte do muro a
descoberto. Uma roseira, com rosas amarelas, tenta embelezar a falha
da hera. Creio que tanto a hera como a roseira aproveitarão a época
de chuvas para alcançarem o completo desenvolvimento. Duas outras
plantas apresentaram problemas, pois suas folhas estão amareladas e
sem brilho. Talvez o excesso de sol não lhes tenha permitido um bom
desenvolvimento. Porém, com as chuvas, penso que tudo irá se
resolver. Meu jardim terá uma beleza simétrica.
Continuando a subida, ao lado
esquerdo, uma arvore nativa do serrado se impõe por sua beleza
exótica. Num dos seus galhos, pendurei uma bandeja com sementes onde
um bando de periquitos vem fazer a sua primeira refeição. É
impressionante vê-los inquietos, pulando de galho em galho,
esperando que Serginho lhes sirva as sementes. Ao entardecer, a
passarada volta para a última refeição. Três pés de orquídeas e
um hibisco arrematam o lado esquerdo. No centro, um gramado bem
cuidado é iluminado à noite por um lampião. É neste tapete verde
que outros pássaros vêem a procura de alimento durante o dia.
Todos os meus visitantes admiram a
beleza do meu jardim, mas aos meus olhos, ele não estava completo.
Em meu jardim faltava a arvore de minha preferência, um flamboaiã;
e da varanda eu imaginava a beleza que traria um flamboaiã plantado
logo no inicio do tapete de grama que cobre toda aquela área. Parece
que minha filha, Valeria, leu o meu pensamento. Ela me trouxe, de
presente, uma muda de árvore falando-me ao me entregar: mamãe é
para você este flamboaiã. Foi inacreditável! Estava em minhas mãos
a árvore com que sempre sonhei para o meu jardim. Agora era só
plantá-la e vê-la crescer.
Inicialmente apenas um pouco de
água era o suficiente para regá-la. Porém, seu desenvolvimento foi
rápido. Com o tempo, ela necessitou de mais água e de um
fertilizante próprio para sua espécie. Depois, para regá-la,
passei a usar a mangueira. Tudo estava bem com a minha arvore. Ao
completar um ano ela estava alta, seu tronco engrossou e suas folhas
eram de um verde brilhante. No seu quarto ano de vida, nenhuma flor
desabrochou. No ano seguinte, já aos cinco anos, algumas flores
coloriam a minha arvore. A demora me irritava. Veja só, plantei e
cuidei desta arvore com desvelo e aos cinco anos ela me presenteou
com pouquíssimas flores. Isso decepciona qualquer um.
No outono de 2012, meu flamboyant
começou sofrer transformações. Suas folhas caíram todas e dos
seus galhos brotaram vagens negras de mais ou menos quarenta
centímetros. Que horror! A arvore dos meus sonhos tinha ares
de assombração. Nem mesmo o vento dava movimento a aqueles galhos
secos. Aquela visão me entristecia. Foi então que resolvi me livrar
daquele fantasma. Precisava urgentemente encontrar alguém para
tirá-la dali. Meu jardim estava triste e o meu coração também.
Era doloroso abrir a janela do meu quarto e ver aquele horror. Não
sei se era minha imaginação, mas até a alvorada dos meus pássaros
já não era tão festiva.
Certa manhã, ainda sonolenta, abri
a janela e não acreditei no cenário de cor e beleza que se
estampava diante dos meus olhos. O meu flamboyant estava coberto de
flores de um colorido laranja avermelhado tão perfeito que, aqui na
terra, nem mesmo Leonardo Da Vinci seria capaz de pintá-lo. O
que eu estava vendo foi pintado por mão divina. Tudo muito lindo,
perfeito. E eu, na minha ignorância, quase destruí a obra divina
que o criador estava preparando para embelezar o meu jardim.
Sinceramente eu não sabia que para alcançar idade adulta e exibir
tanta beleza o flamboyant teria que passar por tamanha transformação.
Agora, com o meu jardim completo e
lindo, estou feliz e agradecida a Deus por não ter me permitido
destruir a árvore dos meus sonhos.
Maísa, 13 novembro de 2012.